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PERFIL - NAYANNA DE SOUZA BRITO, A MÃE QUADRILHEIRA

As festas juninas ocorrem em todo território nacional, porém na região nordestina elas se popularizaram ainda mais, se tornando uma marca cultural da região. No nordeste as comemorações do mês de junho são tão características que as pessoas já nascem nesse universos dos festejos de São João. Foi assim com a Nayanna de Souza Brito.

Natural de Campina Grande, na Paraíba, cidade onde ocorre o Maior São João Do Mundo, Nayanna está conectada com a cultura popular e as festas juninas desde sempre. Aos 29 anos, ela faz parte da Quadrilha Junina Moleka 100 Vergonha, uma das quadrilhas mais tradicionais da região, e do grupo de dança popular Acauã da Serra, vivenciando diretamente em seu cotidiano a cultura junina.

Quando ainda era criança, Nayanna já se envolvia com os festejos. O São João não só fazia parte da cultura dela como nordestina, mas do contexto cultural familiar. De fato, tudo que está ligado à festa está enraizado nela, de modo que fizeram parte do desenvolvimento pessoal dela.

As festas juninas sempre foram uma ferramenta para unir a família de Nayanna. O gosto pelas comemorações é compartilhado por todos os membros da família, que sempre moraram na mesma região, e se reuniam tradicionalmente todos os anos na casa da avó Josefa Alves de Souza Brito, hoje j[a falecida, onde aconteciam as festas que duravam até o amanhecer com bastante forró.

Além disso, Nayanna frequentava o Parque do Povo, um dos principais palcos do Maior São João do Mundo, desde muito pequena. A mãe dela, Maria José de Souza Brito, sempre fez questão de inseri-la no contexto cultural junino. Inclusive, ela era a responsável por influenciar Nayanna e seus primos a realizarem apresentações informais para a família durante as tradicionais comemorações.

Maria José os incentivava tanto que confeccionava as roupas características da festa para as crianças, além de montar uma espécie de palco improvisado para as apresentações de dança e para realização das brincadeiras delas. Não havia um ano sequer sem que isso ocorresse, e todos se divertiam em meio aos festejos juninos.

A mãe de Nayanna é assistente social, o pai, Napoleão Guilherme de Brito, é motorista, hoje ambos já estão aposentados. Além de Nayanna, eles tiveram mais dois filhos, sendo ela a mais nova dentre dois irmãos. A família sempre esteve presente na vida dela, a apoiando desde quando decidiu entrar no primeiro grupo de dança, bem como acompanhando ela nas muitas apresentações.

Dona Maria José inclusive, foi uma das maiores incentivadoras, além de motivar as apresentações de dança informais para a família, ela inseriu Nayanna em aulas de Balé Clássico quando ela ainda era muito novinha. Também fez questão de que a filha participasse das apresentações das quadrilhas anuais que aconteciam na escola. Além de ingressá-la em apresentações de pastoril, manifestação folclórica comum no nordeste.

Inclusive o Pastoril de Dona Lenira e Maria Helena foi onde Nayanna se apresentou pela primeira vez de maneira formal. Na época ela tinha entre oito e nove anos e conta que ficou muito nervosa antes de subir ao palco, sensação comum até hoje. Com o pastoril, ela viajava para muitas cidades vizinhas para realização das apresentações. Era o início da vivência que acompanha ela até hoje.

Posteriormente, já mais velha, ingressou em seu primeiro grupo de dança, o Tropeiros da Borborema. Mais tarde passou a fazer parte do CIA Raízes e já há sete anos faz parte do Acauã da Serra. No grupo a rotina de ensaios é semanal. Pelo menos uma vez em cada semana eles se encontram para se prepararem para as apresentações, tendo em vista, que elas ocorrem durante todo o ano, nos festivais do Brasil e do exterior também.

Em 2017 Nayanna passou a ser integrante da quadrilha Moleka 100 Vergonha. Segundo ela, sempre foi muito fã da quadrilha e carregava o desejo de fazer parte, mas estava impossibilitada devido a rotina que era bastante corrida, visto que ela estudava, trabalhava e ainda conciliava tudo com os grupos de dança. Hoje, embora seja cansativo, ela consegue conciliar tudo.

Na quadrilha a preparação para as apresentações que ocorrem no período junino começa com cerca de seis meses de antecedência. As atividades para os dançarinos começam em janeiro e vão até o mês de julho. Os ensaios ocorrem durante quatro dias por semana. Todas as quintas, sextas, sábados e domingos os quadrilheiros se reúnem por cerca de seis horas consecutivas para ensaiar. E quando as apresentações se aproximam a carga de ensaios aumenta.

Com o advento da pandemia do covid-19 os compromissos com a quadrilha foram paralisados por dois anos, tendo retornado esse ano e com algumas adaptações. Em 2022, com a incerteza da ocorrência das festas juninas, tudo foi preparado meio que às pressas. A montagem dos figurinos, coreografia, cenografia, preparação da banda e do teatro, que normalmente era feita em seis meses, foi realizada em dois. Os quadrilheiros inclusive tiveram que ensaiar todos os dias, até mesmo pela madrugada.

Foi durante a pandemia que Nayanna engravidou e há cinco meses deu à luz a sua primeira filha, Maria Olivia. A maternidade agora é mais uma atribuição à rotina dela. Conciliá-la com as demais atividades e com a exaustiva preparação para o mês de junho poderia ser uma dificuldade para outras pessoas, mas Nayanna faz isso com leveza, embora seja desafiador.

Por causa da pouca idade de Maria Olívia, Nayanna não tem trabalhado fora de casa, o que ajuda na administração das multitarefas. Como a bebê tem amamentação exclusiva e em livre demanda, ela está presente em todo lugar que a mãe está, inclusive nos ensaios e apresentações. Um vídeo de Nayanna ensaiando com Maria no colo, através do uso de um material de amarração, viralizou nos últimos dias, levando os jornais da cidade a produzirem matérias a respeito do caso.

A presença da Dona Maria José nos ensaios e apresentações não ficou no passado. Nayanna conta que ainda hoje isso ocorre e que a mãe tem sido um auxílio, cuidando de Maria Olívia. Além disso, o esposo de Nayanna e pai da bebê, faz parte da banda da quadrilha. Ou seja, a família sempre está presente, se auxiliando mutuamente para que consigam ser excelentes com cada responsabilidade. Eles ensaiam e garantem a segurança e conforto de Maria Olívia ao mesmo tempo.

A vida de quadrilheira além de cansativa vem acompanhada de alguns perrengues. Nayanna conta que nos últimos dias a quadrilha foi convidada para se apresentar no Festival Globo Nordeste, em Recife. Eles saíram de Campina Grande com destino a cidade pernambucana às 9h e chegaram lá às 23h, em um percurso que deveria ser concluído em cerca de 4h.

O motivo do transtorno foi que os dois ônibus enviados pela Federação Campinense de Quadrilhas quebrou. Os quadrilheiros ficaram desabrigados em um trecho da estrada que não tinha sequer sinal de celular. Eles estavam sem água e sem comida, subindo algumas serras que tinham por perto em busca de sinal de celular para solicitar ajuda.

Depois de muito tempo eles conseguiram consertar um dos ônibus, que os levou em duas viagens para o posto de gasolina mais próximo, onde conseguiriam almoçar, porém, chegando lá não havia mais comida disponível. Ficaram por lá por mais um tempo, até que a Globo enviou um ônibus a mais para que conseguissem chegar a tempo da apresentação. Contudo, a cenografia e os adereços da quadrilha tiveram que retornar para Campina Grande, pois no dia seguinte eles iriam se apresentar no Festival Campinense de Quadrilhas e a montagem requer um tempo.

Nayanna relata que eles chegaram ao recife abatidos e cansados e que aquela apresentação tinha tudo para ser ruim, porém, ao entrar na arena de apresentação eles foram ovacionados pelo público presente, que de pé gritavam e os aplaudiam. Segundo Nayanna, em segundos, aquela apresentação foi de pior, para melhor da vida dela. Embora a vida de quadrilheira seja cansativa e às vezes proporcionem desafios como esses, Nayanna não pretende deixá-la e se considera uma apaixonada pela cultura junina, que faz parte dela desde sempre.